quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Meus Estudos


Resumo da obra integral: A conquista da América. A questão do outro, de Tzvetan Todorov – Editora Martins Fontes: São Paulo, 2003.

A primeira parte do livro intitula-se “Descobrir” e trata das interpretações feitas “do outro” pelos europeus (Colombo) e pelos indígenas americanos no período da “descoberta” da América.

Os objetivos de Colombo em terras americanas possuem um propósito maior do que a “simples” retirada de ouro, pelo que se entende por suas cartas destinadas à Europa e outros textos que escreveu. Colombo esperava encontrar ouro para financiar a expansão do catolicismo, e como em novas Cruzadas, empregar a reconquista da Terra Santa no Oriente à Igreja. Ele acreditava estar destinado a liderar a luta por esse objetivo maior.

Tanto em seus objetivos, sua forma de pensar e ver o mundo, e a interpretação feita do outro americano, Colombo demonstra uma mentalidade “finalista”. Sua visão das novas terras, de seus habitantes, e do seu “destino” é mítica, provém de literaturas folclóricas de escritores da época ou mais antigos, de interpretações bíblicas, de crenças populares. O genovês não se preocupava em “procurar a verdade” e ver o novo mundo como ele era, mas procurava confirmações para verdades conhecidas de antemão. As certezas de Colombo acabaram dando-o sucesso em sua viagem, como alicerces, mas alimentaram a superficialidade do conhecimento das novidades.

Colombo acreditava ter chegado em “terras virgens”. Por isso adorava dar nomes às coisas, não reconhecia o idioma indígena como fala, e a falta de vestimentas (que são símbolos de cultura) dos nativos fazia-o encará-los como seres aculturados. O primeiro contato com os índios foi de total incompreensão, porém Colombo agia o tempo todo como se entendesse (visto que achava já conhecer tudo de antemão pelo que havia lido). Essa atitude de Colombo pode ser vista como a de um “colecionador de curiosidades”, não tinha interesse real de compreensão, assim, tinha tendência a fazer generalizações e interpretações extremamente parciais sob a égide de sua cultura cristã-européia.

Uma das incompreensões de Colombo é a diferença do valor das coisas para os índios. Não conseguia aceitar que os valores são convenções. Assim, para ele, quando um índio trocava grandes quantidades de ouro por quinquilharias, era sinal da generosidade e inocência dos nativos (até falta de inteligência). Essa “generosidade” criou o mito do “bom selvagem”.

Os índios não entendiam a propriedade privada, tudo era propriedade comum – assim, pegavam o que queriam dos colonizadores – a partir disso, vem a outra adjetivação dada a eles por Colombo, de ladrões.

A prática “padrão” do colonizador diante do colonizado mostra-se bem: igualdade humana (assim, os colonizados devem assimilar a cultura do dominador) e diferença (comparação de superioridade e inferioridade). A alteridade humana é, ao mesmo tempo, recusada e revelada. Sintetizando, Colombo considera os indígenas como objetos vivos.

A segunda parte da obra é denominada “Conquistar”. Há explicações e entendimentos para a vitória de Cortez, que dispunha de pouquíssimos homens perto do contingente asteca (mexicas) do imperador Montezuma (Motecuhzoma).

Além da ambigüidade do imperador Montezuma, na primeira parte da conquista, que ora tinha atitudes ativas ora passivas, após sua morte Cortez consegue aproveitar-se das lutas internas entre povos rivais, e até “apadrinha” um dos povos a seu favor para a luta contra os astecas. Os índios das regiões atravessadas por Cortez já “estavam acostumados” à conquista, porque haviam sofrido isso pelos astecas – o México de então era um conglomerado de populações subjugadas pelos astecas. “Desse modo, longe de encarnar o mal absoluto, Cortez freqüentemente aparecerá como um mal menor, como um libertador.” (p. 81)

Analisando a ótica asteca de vida e de significados, vê-se que tudo entre eles acontecia “por um motivo”, e se realizava porque havia uma profecia anterior. O indivíduo, na sociedade indígena, não representava uma totalidade social, mas era unicamente elemento constitutivo da totalidade real, a coletividade. “O futuro do indivíduo é determinado pelo passado coletivo; o indivíduo não constrói seu futuro, este se revela; daí o papel do calendário, dos presságios, dos augúrios.” (p. 95)

O tempo, para os astecas, poderia muito bem ser representado pela roda, pelo círculo (submissão do presente ao passado), enquanto o europeu tem a característica de linearidade.

Os astecas deveriam ter a qualidade de falar bem e interpretar bem, a associação entre o domínio lingüístico e o poder é claramente marcada.

Com Cortez e seus signos, dá-se a cara européia. O cristianismo e suas características propiciaram o apoio para o modo como os estrangeiros se relacionaram e viram o nativo americano. A universalidade do Deus cristão (que é nome comum, não próprio), traz a intolerância (ou seja, seu Deus é único, não há espaço para outros).

Cortez tem grande preocupação com as aparências, gosta de ações espetaculares, com consciência dos seus valores simbólicos. No comportamento de Cortez percebe-se a influência do espírito da época, com Maquiavel e o seu O príncipe.

Cortez demonstra capacidade de compreender e falar a linguagem do outro – os espanhóis, em seu próprio benefício, exploram os mitos indígenas.

Em “Amar”, a terceira parte do livro, há no início o encadeamento “Compreender, Tomar e Destruir” em questão. Entende-se que a compreensão só assim será se houver reconhecimento pleno do outro como sujeito, não como “coisa”, caso contrário, essa compreensão será usada para a exploração, o “tomar”. Esse tomar encadeia-se no destruir, acontecendo assim o genocídio indígena, por assassinatos diretos (como nas guerras), maus-tratos ou doenças trazidas pelos espanhóis. “O fato de os índios morrerem às pencas é uma prova de que Deus está do lado dos conquistadores.” (p. 196)

Na dicotomia Igualdade versus Desigualdade, o erudito e filósofo Gines de Sepúlveda possui uma visão extremamente influenciada pela Política de Aristóteles, onde há a distinção entre os que nasceram senhores e os que nasceram escravos.

Sepúlveda acha que a hierarquia, e não a igualdade, é o estado natural

da sociedade humana. Mas a única relação hierárquica que conhece é

a da simples superioridade-inferioridade. (p. 221)

Com pensamento oposto, o padre dominicano Bartolomé de Las Casas “diz sim” ao colonialismo e não ao escravismo. Ele pregava que se bem tratato e considerado como sujeito, o indígena só produziria mais e melhor (e também obedeceria com menos resistência), e seria mais um consumidor.

Sobre a relação de Colonização e Comunicação, ou seja, a influência histórica que culturas diferentes exercem sobre ou juntamente uma a outra, diz-se:

(...) é possível estabelecer um critério ético para julgar a forma das influências: o essencial, eu diria, é saber se são impostas ou propostas. A cristianização, como a exportação de toda e qualquer ideologia ou técnica, é condenável a partir do momento em que é imposta, pelas armas ou de outro modo. (p. 261)

Na última parte do livro, “Conhecer”, há a Tipologia das Relações com Outrem. Estas são feitas por vez ou simultaneamente nos planos axiológico, praxiológico e epistêmico.

O espanhol Duran, que viveu no México desde criança, teve uma compreensão interna da cultura indígena que seria inigualada no século XVI. Nele vê-se, como “peça amostral”, como havia o sincretismo religioso nos indígenas e nos espanhóis.

A sua mestiçagem manifesta-se de vários modos. O mais evidente, mas talvez também o mais superficial, é o fato de compartilhar o modo de vida dos índios, suas provações, suas dificuldades; segundo ele, era essa a vida de muitos missionários. “Tornaram-se bichos com os bichos, índios com os índios, bárbaros com os bárbaros, homens alienados de nossos modos e nação”. Mas esse é o preço que devem pagar para compreender: “Os que falam de fora, que nunca quiseram tomar parte nesses assuntos, compreendem pouca coisa.” (p.309)


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