terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Os Prêmios - Julio Cortázar

“- Pingue-pongue – disse Paula.
-Pingue-pongue?
-Sim, eu pergunto como você está, você me responde, e depois me pergunta como estou. Eu respondo: Muito bem, Jamaica John, apesar de tudo. O pingue-pongue social, sempre deliciosamente idiota como os bis dos concertos, os cartões de felicitações e mais três milhões de coisas. A deliciosa vaselina que conserva tão bem lubrificadas as rodas das máquinas do mundo, como dizia Spinoza.”

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

''Fique contente, não analise e fique contente. A gente tem o vício (eu, pelo menos) de matar a alegria com mil análises críticas que geralmente não têm nada a ver.
Toque o barco sem medo. Gente como você é sempre uma força.'' C.F.A.

domingo, 27 de dezembro de 2009


"Não é por outra razão que estou aqui tentando colocar ordem nestas idéias que vivem em trânsito. Não chego a temer a loucura, no fundo a gente sabe que ninguém é muito certo.

Eu tenho medo é da lucidez. Tenho medo dessa busca desenfreada pela verdade,pelas respostas. Quando estou acostumando com uma versão de mim mesma surge outra, cheia de enigmas,e vou atrás dela. Tem tanta gente que elege uma única versão de si próprio e não olha mais pra dentro. Esses é que são os lunáticos.

Eu, ao contrário, quase não olho para fora.

Você me entende? Eu não tenho medo de perder o senso. Eu tenho medo é desta eterna vigilância interior, tenho medo do que me impede de falhar.

O que me amedronta é essa minha insistência em me enfrentar."
"Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se."

sábado, 26 de dezembro de 2009

"Quem navega, não pensa em perda nem permanência:
só busca o caminho das ondas e do ar." - Lya Luft
"Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu..."
Alberto Caeiro

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim da sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se do seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo. O que vem depois, não se sabe. Há aquele olhar de que lhe falei, e aquelas outras coisas, mas nada sei de você por dentro, depois de ver."

Eles de O Ovo Apunhalado, Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

“A dúvida antropológica não consiste unicamente em saber que não sabemos nada, mas em expor resolutamente o que acreditávamos saber, e até mesmo a nossa própria ignorância, aos insultos e aos desmentidos infligidos aos hábitos e idéias que nos são muito caros por aqueles hábitos e idéias que podem contradizê-los em seu mais alto grau” (LÉVI-STRAUSS, 1973, p.37)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu não quero a normalidade, eu quero a loucura, a insanidade, pois os ditos normais trouxeram o mundo ao caos. Quem sabe se tivéssemos escutado os loucos?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


"Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro."
José Saramago

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Meus Estudos


Resumo da obra integral: A conquista da América. A questão do outro, de Tzvetan Todorov – Editora Martins Fontes: São Paulo, 2003.

A primeira parte do livro intitula-se “Descobrir” e trata das interpretações feitas “do outro” pelos europeus (Colombo) e pelos indígenas americanos no período da “descoberta” da América.

Os objetivos de Colombo em terras americanas possuem um propósito maior do que a “simples” retirada de ouro, pelo que se entende por suas cartas destinadas à Europa e outros textos que escreveu. Colombo esperava encontrar ouro para financiar a expansão do catolicismo, e como em novas Cruzadas, empregar a reconquista da Terra Santa no Oriente à Igreja. Ele acreditava estar destinado a liderar a luta por esse objetivo maior.

Tanto em seus objetivos, sua forma de pensar e ver o mundo, e a interpretação feita do outro americano, Colombo demonstra uma mentalidade “finalista”. Sua visão das novas terras, de seus habitantes, e do seu “destino” é mítica, provém de literaturas folclóricas de escritores da época ou mais antigos, de interpretações bíblicas, de crenças populares. O genovês não se preocupava em “procurar a verdade” e ver o novo mundo como ele era, mas procurava confirmações para verdades conhecidas de antemão. As certezas de Colombo acabaram dando-o sucesso em sua viagem, como alicerces, mas alimentaram a superficialidade do conhecimento das novidades.

Colombo acreditava ter chegado em “terras virgens”. Por isso adorava dar nomes às coisas, não reconhecia o idioma indígena como fala, e a falta de vestimentas (que são símbolos de cultura) dos nativos fazia-o encará-los como seres aculturados. O primeiro contato com os índios foi de total incompreensão, porém Colombo agia o tempo todo como se entendesse (visto que achava já conhecer tudo de antemão pelo que havia lido). Essa atitude de Colombo pode ser vista como a de um “colecionador de curiosidades”, não tinha interesse real de compreensão, assim, tinha tendência a fazer generalizações e interpretações extremamente parciais sob a égide de sua cultura cristã-européia.

Uma das incompreensões de Colombo é a diferença do valor das coisas para os índios. Não conseguia aceitar que os valores são convenções. Assim, para ele, quando um índio trocava grandes quantidades de ouro por quinquilharias, era sinal da generosidade e inocência dos nativos (até falta de inteligência). Essa “generosidade” criou o mito do “bom selvagem”.

Os índios não entendiam a propriedade privada, tudo era propriedade comum – assim, pegavam o que queriam dos colonizadores – a partir disso, vem a outra adjetivação dada a eles por Colombo, de ladrões.

A prática “padrão” do colonizador diante do colonizado mostra-se bem: igualdade humana (assim, os colonizados devem assimilar a cultura do dominador) e diferença (comparação de superioridade e inferioridade). A alteridade humana é, ao mesmo tempo, recusada e revelada. Sintetizando, Colombo considera os indígenas como objetos vivos.

A segunda parte da obra é denominada “Conquistar”. Há explicações e entendimentos para a vitória de Cortez, que dispunha de pouquíssimos homens perto do contingente asteca (mexicas) do imperador Montezuma (Motecuhzoma).

Além da ambigüidade do imperador Montezuma, na primeira parte da conquista, que ora tinha atitudes ativas ora passivas, após sua morte Cortez consegue aproveitar-se das lutas internas entre povos rivais, e até “apadrinha” um dos povos a seu favor para a luta contra os astecas. Os índios das regiões atravessadas por Cortez já “estavam acostumados” à conquista, porque haviam sofrido isso pelos astecas – o México de então era um conglomerado de populações subjugadas pelos astecas. “Desse modo, longe de encarnar o mal absoluto, Cortez freqüentemente aparecerá como um mal menor, como um libertador.” (p. 81)

Analisando a ótica asteca de vida e de significados, vê-se que tudo entre eles acontecia “por um motivo”, e se realizava porque havia uma profecia anterior. O indivíduo, na sociedade indígena, não representava uma totalidade social, mas era unicamente elemento constitutivo da totalidade real, a coletividade. “O futuro do indivíduo é determinado pelo passado coletivo; o indivíduo não constrói seu futuro, este se revela; daí o papel do calendário, dos presságios, dos augúrios.” (p. 95)

O tempo, para os astecas, poderia muito bem ser representado pela roda, pelo círculo (submissão do presente ao passado), enquanto o europeu tem a característica de linearidade.

Os astecas deveriam ter a qualidade de falar bem e interpretar bem, a associação entre o domínio lingüístico e o poder é claramente marcada.

Com Cortez e seus signos, dá-se a cara européia. O cristianismo e suas características propiciaram o apoio para o modo como os estrangeiros se relacionaram e viram o nativo americano. A universalidade do Deus cristão (que é nome comum, não próprio), traz a intolerância (ou seja, seu Deus é único, não há espaço para outros).

Cortez tem grande preocupação com as aparências, gosta de ações espetaculares, com consciência dos seus valores simbólicos. No comportamento de Cortez percebe-se a influência do espírito da época, com Maquiavel e o seu O príncipe.

Cortez demonstra capacidade de compreender e falar a linguagem do outro – os espanhóis, em seu próprio benefício, exploram os mitos indígenas.

Em “Amar”, a terceira parte do livro, há no início o encadeamento “Compreender, Tomar e Destruir” em questão. Entende-se que a compreensão só assim será se houver reconhecimento pleno do outro como sujeito, não como “coisa”, caso contrário, essa compreensão será usada para a exploração, o “tomar”. Esse tomar encadeia-se no destruir, acontecendo assim o genocídio indígena, por assassinatos diretos (como nas guerras), maus-tratos ou doenças trazidas pelos espanhóis. “O fato de os índios morrerem às pencas é uma prova de que Deus está do lado dos conquistadores.” (p. 196)

Na dicotomia Igualdade versus Desigualdade, o erudito e filósofo Gines de Sepúlveda possui uma visão extremamente influenciada pela Política de Aristóteles, onde há a distinção entre os que nasceram senhores e os que nasceram escravos.

Sepúlveda acha que a hierarquia, e não a igualdade, é o estado natural

da sociedade humana. Mas a única relação hierárquica que conhece é

a da simples superioridade-inferioridade. (p. 221)

Com pensamento oposto, o padre dominicano Bartolomé de Las Casas “diz sim” ao colonialismo e não ao escravismo. Ele pregava que se bem tratato e considerado como sujeito, o indígena só produziria mais e melhor (e também obedeceria com menos resistência), e seria mais um consumidor.

Sobre a relação de Colonização e Comunicação, ou seja, a influência histórica que culturas diferentes exercem sobre ou juntamente uma a outra, diz-se:

(...) é possível estabelecer um critério ético para julgar a forma das influências: o essencial, eu diria, é saber se são impostas ou propostas. A cristianização, como a exportação de toda e qualquer ideologia ou técnica, é condenável a partir do momento em que é imposta, pelas armas ou de outro modo. (p. 261)

Na última parte do livro, “Conhecer”, há a Tipologia das Relações com Outrem. Estas são feitas por vez ou simultaneamente nos planos axiológico, praxiológico e epistêmico.

O espanhol Duran, que viveu no México desde criança, teve uma compreensão interna da cultura indígena que seria inigualada no século XVI. Nele vê-se, como “peça amostral”, como havia o sincretismo religioso nos indígenas e nos espanhóis.

A sua mestiçagem manifesta-se de vários modos. O mais evidente, mas talvez também o mais superficial, é o fato de compartilhar o modo de vida dos índios, suas provações, suas dificuldades; segundo ele, era essa a vida de muitos missionários. “Tornaram-se bichos com os bichos, índios com os índios, bárbaros com os bárbaros, homens alienados de nossos modos e nação”. Mas esse é o preço que devem pagar para compreender: “Os que falam de fora, que nunca quiseram tomar parte nesses assuntos, compreendem pouca coisa.” (p.309)


Meus estudos =)

Resumo do texto de Estevão Chaves de Rezende Martins. Cultura e Poder, pp. 29-60. In Cultura e Poder. São Paulo. Editora Saraiva, 2007.


Para o autor, a dimensão coletiva contém um componente atemporal, que seria responsável pelas permanências, ou seja, pela cultura histórica que se mantém e torna-se base para a formação cultural das coletividades e indivíduos do presente e futuro. A “posse” da educação, no formato de ensino, desde o Estado Moderno, é a principal responsável pela sustentação e constituição de identidades culturais históricas.

“(...) a dominação política se esteia em elementos históricos, em particular na simbologia das origens e da continuidade, para pretender a legitimidade. A legitimidade é a aptidão estrutural do sistema político para receber adesão, supondo-se que os mecanismos de sua justificação encontram base (real ou forjada) na memória histórica da coletividade (pelo menos da coletividade dominante).” (p. 34)

Há a explicação das “quatro vias” da construção de identidades, que predominantemente são entrelaçadas: identidade por assimilação ou apropriação, identidade por rejeição, identidade por contraste e identidade por diferença.

Em uma análise sobre a amplitude do termo cultura, que surgiu recentemente, pode-se pegar o enunciado do antropólogo Clifford Geertz, para o qual “a cultura não é um acréscimo ornamental de sofisticação supérflua de um ou de outro indivíduo – a cultura é um elemento constitutivo da condição humana.”(p.42). Esta extensão da compreensão do termo demorou a chegar neste ponto, e atualmente há o reconhecimento de cultura como fator subjetivo e coletivo de afirmação identitária.

A diversidade de adjetivos ganhos pelo termo cultura pode ser agrupada em dois conjuntos. O primeiro de caráter étnico (cultura inglesa, cultura americana, cultura chinesa, etc.) e o segundo por “temas” (cultura política, erudita, popular, literária, etc.).

A política de Estado tem seu alicerce no sentimento criado de nacionalismo, que dá “forma à massa” e cria a imaginada e arquitetada nação – essa forma ideológica de política, o Estado-nação, dá-se a partir do final do século XVIII. Partindo da identificação com a pátria, com o líder ou com os símbolos e heróis nacionais, entre outros exemplos, há a geração de “uma vontade coletiva de lealdade” ao Estado.

“Os Estados buscam justificar seu poder conformando o modo de pensar de seus cidadãos por intermédio dos sistemas de educação e de comunicação de massa. Inúmeras vezes, ao longo dos séculos XIX e XX, encontra-se o motivo da defesa dos valores e do modo próprio de ser e de viver para sustentar ataques – verbais ou armados – a outros Estados.” (p. 47)

A formação cultural das identidades dá-se por três diferentes e complementares níveis: a identidade nacional, a social e a pessoal. Todas essas constituídas a partir do meio de vida de interações. Para Mathews, um dos pesquisadores citados no texto, a cultura é sistematicamente moldada e manipulada pelo Estado e/ou pelo mercado.

As informações, que influenciam na construção, edificação e propagação cultural, podem ser de fontes sistematizadas, institucionalizadas (plano governamental – educação, de forma direta e indireta; comunicação – indústria da notícia, fontes antigas e contemporâneas) ou de fontes assistemáticas, informais (o que circula no plano das mentalidades individuais e sociais).

Para Castells, outro autor citado no texto, a circulação de idéias e de bens culturais é alimentada por uma multiplicidade de fontes, de acordo com as diferentes culturas de origem, com as respectivas histórias e com as geografias próprias (“obsessão deliberada pelo multiculturalismo” – Castells).