quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós
uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


SARAMAGO, José.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cá estou eu, neste lúgrube canto pensando. Não sei se minha escrita é lúcida, pois entorpecida estou por meus sentires. Penso se vale, vale, no ato de fazer, este seja o que sentir. Não, concluo, é um erro. Não confie nos seus sentires, Luciana. Repito-me. É? Não sei. Nunca vou saber. Queria, eu queria seguir meus sentires. Não sei se tenho coragem restante. Mas bom dia amanhã! Calma.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

(...)Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso. "


Martha Medeiros
Não há nada que nos dê mais segurança emocional do que não “precisar” dos outros,
e sim contar com os outros para aquilo em que eles são insubstituíveis:
companhia, sexo, risadas, amizade, conforto.
Se ainda não atingiu esse estágio, suba num cavalo imaginário e dê seu grito do Ipiranga.
Ficar amarrado à vida alheia faz você viver menos a sua.
Nada de se fazer de desentendida,
só para não se incomodar.
Incomode-se.
Dependência é morte.


[Martha Medeiros]