sábado, 3 de janeiro de 2009

Mais um ano tem o seu fim. E esse "mais" possui uma importância muito grande, pela relatividade do tempo que ele carrega. Nós sempre tentamos definir o que é o tempo... escrevemos sobre ele, teorizamos sobre ele, o demarcamos. Entretanto, essa palavra não possui uma definição imutável. Tempo pode ser conceito, pode ser poesia, pode ser prisão. Tempo pode ser muito, pouco ou nada.
Uma moça de 21 anos morre em uma viagem com a família, longe de sua terra natal, morre por algo que se definiu em uma fração de segundos. Qual foi a definição de tempo para ela quando sua vida passava pela retina de seus olhos? Quanto tempo teve a sua infância, as suas tristezas, suas boas lembranças, no filme da vida que pode ter passado? E se não houve tempo para isso? Quanto tempo durou o intervalo entre o animal entrar na pista, o carro tentar se desviar, e a vida dela desfalecer-se? Quanto tempo é pouco? 21 anos... para ela, uma vida interrompida. Ela viveu o suficiente? Aí está a questão que não devemos tentar responder... Existe em algum lugar algo que diga a idade certa para ir embora? Não. A morte dessa moça, além de mostrar que tempo é relativo, nos mostra como ele pode não existir. Ele não existe a partir do momento que o conceitualizamos. Pensar no tempo é perder o próprio.

Hoje eu acordei já pensando, como em muitos outros dias, buscando uma resposta para o que eu sinto como felicidade, o que sinto como vida. Eu descobri que deixei de viver muito do que me faz feliz, por me preocupar demais com esse tal tempo. Por querer conceitualizar demais, planejar demais, por querer achar verdades demais. Meu tempo não era acordar e aproveitar o que a vida me proporcionava, meu tempo presente era gasto para planejar um futuro. Um futuro ideal. O ideal não me deixou viver o presente. Não existe ideal. O que existem são dias... eles não possuem um livro de regras e planejamento. Eles têm de ser vividos, não planejados.

O emprego dos verbos no passado, até agora, não foi meramente um recurso gramatical. Posso dizer que o pretérito nesse texto é certamente uma figura de pensamento, de efeito. Iniciei o texto falando sobre mais um ano que se termina, e que esse "mais" tem uma grande importância. Agora deixo para trás os verbos no passado, os verbos de "pensar", e coloco os verbos que eu quero que fiquem fixos, os do presente, os do "sentir". A indecisão, a insegurança propiciada pela vontade enlouquecedora do meu querer, a maldita previsão e antecipação do futuro, são deixadas com os verbos do passado. Hoje eu decidi isso. Não é um plano para o futuro... é o modo de viver que eu sempre senti, mas que por pensar erroneamente e demais, deixei de sentir. Eu quero sentir. Hoje acordei e pensei com os sentidos. Agora estou sentindo. Não sei do amanhã... só quero ficar com meu planejamento não planejado de vida. Não me importo mais com o passado, hoje não. Hoje não quero o meu querer. Hoje não vou buscar o meu viver baseado no meu querer... as coisas são como são. Hoje, só por sentir isso, estou feliz.
Hoje, quero gostar das pessoas. Sem esperar nada em troca delas... hoje quero amá-las. Hoje não quero mais pensar no "para sempre". Hoje quero construir o "para sempre" dia a dia, e sendo assim, quando eu menos perceber, o para sempre terá existido. Hoje quero viver intensamente. E isso não quer dizer fazer muitas coisas... isso quer dizer aproveitar o que faz sentido para mim. Isso quer dizer amar sem idealizar, simplesmente amar. Amar naturalmente... sem planejar. Isso quer dizer que só existe algo que realmente importa: viver-ver-renascer. A cada dia. A cada novo e diferente dia.

Hoje, quero viver. Hoje, eu vivo. O único plano que tenho para amanhã... é o de viver.

Não preciso de mais rebuscamento nas palavras. Não preciso mais explicar para mim mesma o que desejo, pois hoje decidi não pensar como antes. Hoje decidi pensar sem loucuras, sem nóias. Decidi pensar pequeno, e esse pequeno agora é grande. Decidi descomplicar.

Finda mais um ano, "mais" porque para mim é o fim de uma longa fase. Pode parecer pouco tempo para muitos, mas como eu relativo o tempo, é o fim de uma longa fase. Uma longa fase que na minha memória será pequena aos poucos...

2009 é hoje. A partir de agora, todos os anos serão hoje. E só esse último verbo deve ser usado no futuro... tudo será hoje.

Hoje, estou sentindo o ar. Hoje, não estou julgando mais os meus antigos conceitos de certo e errado, os meus antigos dogmas. Hoje, quero estar livre. Mesmo que não consiga totalmente, hoje a única busca que vou me permitir é a da liberdade. Liberdade de conceitos... liberdade de felicidade. Liberdade para jogar tudo o que não importar realmente para o ar, e deixar este levar o pó para o passado, e lá o deixar. Hoje, estou acordada, depois de longos anos de sono. Hoje, faço o "para sempre" a cada dia.

Hoje, deixei de buscar respostas e de querer definir o Amor. Hoje, o Amor é sentir. Sem palavras, sem definir. Hoje, o Amor é silêncio, são atos. Hoje, o Amor não precisa declamar "eu te amos", pois hoje o Amor é Amor por si só. Hoje eu amo. Antes, eu conceitualizava...

Feliz hoje. O resto de 2009 a gente busca ser feliz a cada dia...

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